2006/01/06

Como tornar-se num ministro da Saúde nonsense - parte II e 1/5

Reproduzimos neste berlogue mais uma prelecção do curso de formação de ministros da saúde nonsense, recomendado pela maioria dos fabricantes de máquinas de lavar roupa.


Hoje vamos tratar de uma parte importante, mas sempre embaraçosa, de qualquer ministério da saúde: os hospitais psiquiátricos.

Há que ter em mente que, desde tempos imemoriais que os hospitais psiquiátricos são alvos a abater. De facto, não há nada mais enfadonho para um ministro moderno do que um hospital psiquiátrico:

  1. estão esquecidos no meio das cidades, em terrenos que são completamente inadequados à função (mas que seriam perfeitamente adequados, por exemplo, para construir condomínios de luxo, e ainda mais adequados seriam se, imagine, esses condomínios de luxo fossem construidos por um construtor "amigo" seu!)
  2. não dão números de internamentos daqueles que seriam susceptíveis de se pôr naqueles gráficos que dão um jeitaço nos debates da televisão.
  3. não fazem cirurgias (as que fazem são feitas por mestres astrólogos espirrólogos curandeiros, nos pátios do hospital, que não são necessariamente parte do staff médico...)
  4. o sr. Miguel Sousa Tavares não fala deles porque não fazem mudanças de óleo aos jipes...
Por estas e por outras razões, qualquer ministro da saúde nonsense que se preze deve concentrar-se na sua eliminação...

Nesta aula, iremos aprender algumas estratégias para o fazer, exemplificando com os hospitais psiquiátricos da cidade de Lisboa-Hospital Júlio de Matos (HJM) e Hospital Miguel Bombarda (HMB)

Estratégia "George Bush"
  1. Peça um F16 emprestado ao ministro da defesa (com piloto e pilhas incluídos)
  2. Mande bombardear o HJM
  3. Mande bombardear o HMB
  4. Diga que foi tudo terrorismo da Al Qaeda.
  5. Organize uma recolha de fundos para as vítimas, e divida o dinheiro obtido: 50% para a construção da sua própria vivenda no Algarve e 50% para construir condomínios fechados...
  6. Se o piloto se enganar e bombardear o aeroporto em vez de o fazer com o HJM, diga que era a Al Qaeda que queria provocar um novo 11 de Setembro
  7. Tenha cuidado para que o piloto não confunda o HMB com a Avenida Miguel Bombarda... É que nessa zona está o Departamento de Recursos Humanos do seu Ministério... Poderia correr o risco de ser promovido a herói nacional pelos médicos que estão, neste momento, em processo de escolha da especialidade...

Estratégia "Anos 90"

  1. Peça, na União Europeia, fundos para reconversão urbanística dos hospitais
  2. Transfira o pessoal e os doentes de ambos os hospitais para um hospital que não tenha nada a ver com o primeiro - por exemplo, o Hospital de Leiria.
  3. Peça na União Europeia fundos para não construir hospitais
  4. Abotoe-se com os fundos e compre jipes.

Estratégia "Santana Lopes"

  1. Mova pessoal e doentes de ambos os hospitais, em duas horas, para um T2 alugado em Arroios
  2. Faça uma festa na Kapital onde dê uma conferência de imprensa a anunciar que vai surgir um grande hospital psiquiátrico num T2 em Arroios.
  3. Ponha um placard de 30 x 10 m, no exterior do edifício, com a importante mensagem "Em breve, vai surgir aqui um cartaz a dizer qualquer coisa"
  4. Mande fazer um projecto de 10 milhões de euros ao Sr. Frank Gehry, para uma obra de cem mil...
  5. Aguarde calmamente a impugnação pelo Dr. José Sá Fernandes.
  6. Deixe que o processo se arraste anos e anos nos tribunais, até a opinião pública se esquecer de que precisa de um hospital psiquiátrico.

Estratégia "Felgueiras"
  1. Mude o nome do Ministério para Remax João Crisóstomo
  2. Hipoteque os terrenos dos Hospitais Psiquiátricos
  3. Use o dinheiro da hipoteca para constituir uma conta na Suíça
  4. Fuja com a sua família para o Brasil
  5. Concorra às eleições autárquicas do ano seguinte


E pronto! Creio que basta de estratégias por hoje!
Adeus e até à próxima aula.

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