2006/12/08

A alguém que partiu...

Se eu morrer, sobrevive-me com tanta força pura
que despertes a fúria do pálido e do frio,
de sul a sul levanta teus olhos indeléveis,
de sol a sol que soe tua boca de guitarra.

Não quero que vacilem teu riso nem teus passos,
não quero que agonize minha herança de alegria,
não chames o meu peito, estou ausente.
Na minha ausência vive como numa casa.

É uma casa tão espaçosa a ausência
que através das paredes passarás
e no espaço suspenderás os quadros.

É uma casa tão transparente a ausência
que eu, já sem vida, te verei viver
e se sofres, amor, morrerei novamente.

(Pablo Neruda, "Cien Sonetos de Amor")


(À memória de G. L. M.

Obrigado por tudo)


1 comentário:

Maggs disse...

li-o em peito aberto e, na ausência (outra, a de não conhecê-lo), agradeço o hino e a beleza.