2006/02/07

Comentário

Há várias formas, neste país à beira mar plantado, de um tipo se manifestar:

  1. Empunhar cartazes, e avançar em direcção a um qualquer ministério, de punho cerrado, como que a querer esmurrar algum piloto de aviação que cometa a imprudência de voar mais baixo, gritando ad nauseam, quase em jeito de mantra, rimas de elevado interesse poético e cultural, repletas de palavras de ordem, como "A luta continua, Sócrates/Cavaco/Durão/Guterres/("Jerónimo não, que é cá dos nossos") para a rua!"

  2. Uma forma de manifestação que está muito em voga na civilização francesa (e, como se sabe, é de França, e da China, que vêm a maior parte das modas... Certo???) :queimar as viaturas alheias. É uma forma muito útil de o fazer, e tem, basicamente, duas vantagens que saltam à vista - a primeira é combater as baixas temperaturas que se fazem sentir no Inverno do centro da Europa; a segunda é fomentar a prática de exercício físico aeróbico - leia-se, andar a "boots" - junto dos proprietários das ditas viaturas.

  3. Outra forma é utilizar a arma de destruição maciça mais poderosa que o Homem criou à face da Terra, mais potente que trinta "bombas antónias", mais explosiva que duzentos bombistas suicidas, mais destrutiva que quatro mil tanques de guerra, mais violenta que um escuteiro fanático com uma fisga na mão: a TVI. Faz caír governos, ministros ou presidentes da junta, qualquer mulher de 45 anos com perturbação histriónica da personalidade que vá gritar para um noticiário, a plenos pulmões "Não fechem a Sub-Extensão do Centro de Saúde da Cascalheira porque eu tenho um marido de baixa e a fazer biscates, sete filhos menores e tenho de fazer a pé os cem metros que me separam da outra extensão da saúde porque o carro não pega e, já agora, queria mandar beijinhos para os meus primos e para a minha tia, que vivem no Luxemburgo..."

  4. Outra é, nos intervalos das revisões do jipe ou das leituras (próprias ou dos amigos), ir mandar uns bitaites sobre tudo e sobre todos, não com o ímpeto da senhora histérica, mas com um discurso hipertímico entrecortado por eventuais tentativas de tomada de protagonismo por parte do jornalista de serviço (a quem eu nunca gostei de chamar pivot, por me fazer lembrar dentistas e coisas afins...)

  5. Outra é escrever num berlogue. Há berlogues aos pontapés na Internet... Uns de esquerda, outros de direita, outros de cima, outros de baixo, com opiniões das mais distintas. Por exemplo, a propósito do último jogo do Benfica um blog de direita pode dizer que a culpa da derrota do Glorioso é dos pretos que integram a equipa, um blog de esquerda pode dizer que a responsabilidade é da perseguição que as pessoas de preto (o poder político fascista) move às pessoas de vermelho (as classes trabalhadoras). Outros poderão falar em assuntos tão díspares como a alegada promiscuidade entre árbitros e agências de viagem, ou sobre as alegadas proeminências na região anterior do tórax da mulher do Nuno Gomes...
Eu, para manifestar a minha opinião, prefiro aqui o meu berlogue.
Este paleio todo é só para justificar o facto de hoje, particularmente hoje, me apetecer comentar uma notícia.

Mesmo sabendo que, como um dia foi dito por Sibelius, um compositor finlandês, nunca foi erigida estátua alguma em honra de um crítico, e pese embora o meu medo de me transformar, de repente e por alguma "macumba" de um visado, num velho dos marretas, vou atrever-me a fazê-lo.

A notícia é a seguinte: "
Estudo da AXA revela que metade dos portugueses se reforma antes do limite mínimo de idade definido por lei"

E o meu comentário é intelectual e alentejano: "Porra!
Ao olhar para a maior parte dos comentadores políticos, quase todos eles reformados, antes do tempo, como é regra ao que parece, em Portugal, fico aliviado: se já existem velhos dos marretas em Portugal, para quê tirar-lhes o lugar?! Por isso, recuso-me a comentar a notícia."

PS - (Espero que o desabafo não iniba ninguém de comentar neste berlogue. Independentemente de eventuais medos, todas as postas de pescada, por mais pequenas que vos pareçam, são benvindas.)

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