2005/10/25

Caso clínico (A gripe das aves)

Hoje, decidi apresentar-vos um caso clínico:

Um amigo meu começou com paroxismos de espirros.

Ainda pensei em consultar um espirrólogo para o ajudar, mas lembrei-me que mudei a plaquinha do consultório (na falta de plaquinha do consultório, mudei a consola do intercomunicador aqui do prédio, com muitos protestos dos meus vizinhos) para passar a ser professor espirrólogo quirólogo... Foi então que me calei...

Eu de espirrólogo não tenho absolutamente nada... A única coisa que percebo de espirros é que dizer-se que se tem de ir ao hospital porque se está com uma crise esternutatória é sempre bom para enganar a GNR que estiver a fazer controlo de velocidade na auto-estrada. O problema é se o GNR se oferecer para nos acompanhar, como batedor, à urgência... A única salvação é, durante o caminho, evitar a sensação de ministro recém empossado, estudando todas as manobras evasivas possíveis para realizar quando médicos e enfermeiros do serviço se escancararem a rir na nossa cara. No entanto, o facto de ter poucos conhecimentos de espirrologia não impediu o meu amigo de pedir os meus conselhos...

Confesso que fiquei intrigado quando ele me disse que há três semanas andava, dia sim, dia não, a comer frangos no estabelecimento do Quim Zé, o Rei dos Frangos aqui do Bairro. Não sei se houve coincidência epidemiológica com a contratação para o estabelecimento de uma moça com grandes atributos físicos, não se importando o meu amigo de comer frango todos os dias para se fazer ao bife...

Como não perco o telejornal (e também a novela) da TVI, pensei:
- É o choque, é a tragédia, é o terror! - será que o Quim Zé tem ligações à Al Qaeda e está a utilizar os seus frangos como arma biológica? Já agora, será que a moça anda metida com o filho da engenheira da telenovela? Eu vou mas é mudar para os argumentos do Moita Flores... O próximo até se deve passar lá para Santarém...

Imediatamente, pus-me em campo. Fiz um exame objectivo minucioso aos sovacos do meu amigo, e encontrei aí, precisamente no terço médio do sovaco esquerdo, uma minúscula pena, provavelmente de pato. Independentemente de ele ter blusão de penas ou não (isso agora não interessava), encontrei a prova que faltava na investigação.

O diagnóstico estava mais que feito. Foi então, que, como professor espirrólogo tarólogo, quirólogo, lhe dei as minhas mezinhas:

Muito chá de brututu e raíz de imbondeiro (para dar um carácter africano à coisa, e para júbilo do Chico, da Ervanária lá do sítio), acompanhado de um litro de mel da Serra Leoa, 2 ilvicos e ainda um frasco de xarope branco que apanhei lá por casa, que não tinha rótulo, mas que devia ser para a tosse... (ora... se a maior parte dos xaropes que existem são para a tosse, porque havia este de ser diferente?)

Devo dizer que o resultado está à vista: a gripe das aves evoluiu milagrosamente para a cura em três dias.

(Nota: além da cura da gripe das aves, o paciente desenvolveu uma valente diarreia, que o pôs a rehidrate durante 8 dias, para gáudio do farmacêutico. Todavia, tal foi interpretado por mim como um modesto efeito secundário da medicação.)

2005/10/23

Como reconhecer que estás a levar a psiquiatria demasiado a sério

Jovem:
És psiquiatra ou interno de psiquiatria?
Achas que poderás estar a levar a psiquiatria demasiado a sério?
Aqui vão alguns sinais de alerta quanto a isso:

  1. Quando a tua avó se queixa seja do que for (artroses, pancada na cabeça, enfarte agudo do miocárdio, da situação económica do país...), dizes-lhe "Isso é tudo psicossomático", e receitas-lhe um antidepressivo.
  2. Consegues perceber pelo menos vinte por cento do que um psicanalista diz (incluindo o "bom dia", "boa tarde" e "boa noite")
  3. Começas a pensar que Jesus Cristo, de facto, fala com as pessoas. (Imagina a quantidade de profetas que se terão perdido só pelo facto de terem nascido no século XX...)
  4. Queres fazer psicoterapia ao cão da vizinha, que, na tua óptica, sofre de "ansiedade de separação", ladrando que nem um desalmado.
  5. Adormeces a pensar nas vias dopaminérgicas e outras que tais, que podes encontrar num livro de psicofarmacologia perto de ti.
  6. A expressão "falha narcísica" faz, amiúde, parte do teu vocabulário, mesmo quando tu não te queres armar aos cucos...
  7. No Carnaval, em vez de andar a disparar rajadas de água como todas as pessoas normais, te divertes a dar comprimidos de Haldol aos cisnes do jardim, observando o seu comportamento...
  8. Culpas, após longos anos de terapia, a tua mãe por tudo o que te aconteceu de mau: a perna que partiste, o/a namorado/a que te deixou, a chuva, o aumento dos preços do combustível, a guerra no Iraque...
  9. Fazes avidamente diagnósticos de perturbações de personalidade a todos os seres vivos com quem te cruzas, incluindo as plantas do teu quintal...

Este post é dedicado à "malta" do meu Hospital. Obrigado.

2005/10/07

Dicionário de Inglês para Taxistas

O Verão já se foi... E enquanto não volta, aqui fica um documento que nos chegou às mãos. Trata-se de um pequeno dicionário de frases para os taxistas, emitido pela região de turismo do Algarve, em colaboração com o filho do primo do Director, que tirou um curso de línguas na Universidade da Amareleja, e precisa de tacho, ou melhor, de uma remuneração minimamente justa, na casa dos 10 milhões de euros, pelo trabalho de redigir meia folha A4...
É direccionado para certas situações, indicando justamente as frases certas a utilizar, seguidas do significado na língua de Camões:

À entrada no aeroporto de Faro:

Uélcome tu Pórtugale - Benvindo à república das bananas

Antes das 12:00

Gude morningue - Bom dia

Depois das 12:01
Gude afternuno - Boa tarde

Depois das 20:00
Gude iveningue - Boa noite

Comidas e bebidas:

Du iú uonte mi tu teique iu tu de réstaurante? - Queres que eu te leve à tasca onde eu recebo luvas por cada cliente que levo?
Plise, du note cagueite mai care uide bateite fraite - Por favor não sujar o carro com a porcaria das batatas fritas
Plise du note pinteite mai care uide geleide- Diz aos sacanas dos putos para não sujarem os estofos com os olás... senão eu parto-lhes a cara!

Diversão diúrna:

Du iú uonte mi tu teique iú tu de bitche? - Queres que os teus filhos vão brincar com pontas de cigarro para a praia?
(Nota do tradutor: Não confundir o substantivo bitche com o plural bitches... Tal confusão pode revelar-se catastrófica, se o cliente for casado e vier acompanhado pela esposa e pela filha de cinco anos... Ver mais à frente)

Du iú uonte mi tu teique iú tu de supermarquete? - Quer que eu o leve à loja do Xico, onde um rolo de papel higiénico custa dez euros e eu recebo uma comissão?

Du iu uonte mi tu teique iú tu de Chopingue Center? - Fosga-se... Pareces um Português... com tanta gaja boa na praia e vais pavonear-te a tarde toda para as lojas...


Diversão nocturna:

Du iú uonte tu go tu a bare? - Gostas de Whisky de Sacavém baptizado?

Du iú uonte mi tu teique iú tu a gude bare? - Queres que eu te leve a uma casa de alterne onde as bebidas são a 25 euros, tens Whisky de Sacavém baptizado, e (adivinha...) eu tenho uma boa comissão?

Plise du not vomiteite in de care bicose I laveited dess faquin shete- Não chames o gregório aqui dentro porque eu acabei de lavar esta trampa!

Du iú uonte tu gou tu de bitches? - Para os turistas que leram um certo número da revista Time, pode substituir o Uelcome tu Portugale... Para os outros, digamos que não é uma frase muito conveniente... a não ser que eles mostrem mesmo vontade...

No forniqueiting in de care plise... - Olha lá, leva a gaja que engataste por 15 euros para uma pensão daquelas rascas e pára de me sujar os estofos...


Resposta às reclamações (nota... diga sempre estas frases com um sorriso!)

Uone andred euros for uone quilomiter? Oh, came one, laife is expensive iare! - Cobrar 100 euros por uma corrida de um quilómetro é perfeitamente normal... Enquanto Deco, para ti, for apenas o nome de um jogador do Barcelona, a desculpa é o IVA...

No, ui are note one de seime pleice... De cite ove Leiques ese meni rotundes... - Não, não estamos no mesmo sítio. A cidade de Lagos é que tem muitas rotundas...

Du iú uonte tu gou tu de bitches? - sem comentários...



Insultos em Inglês (para utilizar no trânsito)


Vata fucanderuey - Vai-te lixar...

Bardajolas!!! - Insulto universal


Frases de cortesia

Para utilizar com senhoras

Tanque iú, medam - tens umas grandes mamas

Tenque iú fore de cheinge - Esquece lá a gorjeta... gostas de chicote e algemas?!

Para utilizar com cavalheiros

Tanque iu véri mache, sare - A tua mulher tem umas grandes mamas

Du iú uonte tu gou tu de bitches? (sem comentários...)


À saída de Portugal

Bai bai and ci iú sune - Vai lá para a tua terra, mas volta depressa para a gente te extorquir mais uns euros...

2005/10/01

Je suis très contente

Serve o presente post para parafrasear o Lazlo Boloni, o corrido treinador do Sporting...

"Je suis très contente avec le spècialité... Je ne "percébe rian" de Français, mais c'est une bonne forme de parler comme un vrai pseudo-intelectuel..."

ou, em "amaricano":

"Sou far, sou gude"

O que é facto é que me sinto bem. E não, não estou em hipomania. O ambiente com os colegas e com os restantes profissionais é óptimo.
O grupo de internos é muito unido e muito dinâmico, não no sentido de gostar de psicanálise, mas no sentido corrente da palavra... (ui, esta saiu bem...) e o facto é que, como dizia uma colega que entrou no mesmo dia que eu, "parece que estou na faculdade outra vez".

Com uma semana de internato, já consegui presenciar algumas situações interessantes. Já encontrei o "Papa Bento XVI", que é um matulão de raça negra que empenha uma cruzada contra o pai, um "feiticeiro" que o quer matar, mas a mais engraçada foi a seguinte, vinda de uma doente da enfermaria:

"-Doutor, doutor! Já encontrei a cura para mim e para os meus amigos!
- Então qual é, F.?
- É esfregar alfarroba nos dentes!"

( A associação portuguesa de odonto-psiquiatria informa que a alfarroba está clinicamente recomendada para prevenir as cáries dentárias!)

O reverso da medalha é que não tenho tido tempo nem para me benzer... (tenho de pedir a colaboração do Sr. Papa...) mas vou continuar a dar notícias, na medida (e ao ritmo...) possíveis!