2005/07/28

Boas férias

Amanhã irei numa visita de estudo para observar, in situ, o comportamento do português típico, durante os domingos de Agosto... Como é uma situação que exige o resto da semana, decidi isolar-me no meio da multidão, no meu fim de mundo, do qual segue a imagem em anexo... (aqui pode-se ver em tamanho maior)

Já agora, fica o desafio: a paisagem representada corresponde a que sítio do nosso País???

(Uma pista: não é a "Baixa Pombalina"!)

Um abraço e boas férias!!!
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2005/07/27

Manual de boas maneiras para restaurantes chineses

Dizem os cânones que a diferença entre um gourmet e um alarve é que o gourmet se alimenta e se regozija no Tavares Rico, enquanto o alarve come que nem uma besta na tasca da esquina.
Gourmet ou alarve, a qualquer um de nós, desde tenra idade, os pais chagam o juizo:
- Usa talheres para comer! (como se nunca tivessem provado feste fude)
- Não arrotes à mesa... olha que é feio! (Sim... vão eles para a Arábia Saudita e logo vêem...)
- Não metas os dedos na tomada.. (Errr... Espera aí, mas não há tomadas nas mesas... Pronto, eu devia ter feito o ciclo!!!... Mas não interessa!)

Por isso, e para vos chagar mais um pouco o juízo, hoje, decidi colocar aqui uma das obras inéditas da Paula Bobone: um pequeno manual de boas maneiras para restaurantes chineses...
  1. Quando lhe derem as toalhinhas para limpar as mãos, evite perguntar se não têm uma com a bandeira do Sporting (ou do Porto).
  2. Evite colocar a toalhinha das mãos na testa, exercer os seus dotes de ventríloquo e falar como se estivesse num filme do Bruce Lee...
  3. Se pertence àquele grupo de pessoas que têm instintos sadomasoquistas, saiba que é muito feio autoflagelar-se, com a toalhinha das mãos, em público... A não ser que a TVI esteja presente... Aí, quanto mais se autoflagelar, melhor!!! Se for esse o caso, comece a dizer que vive numa barraca e não tem dinheiro para viver e oculte, da melhor maneira possível, os fios de ouro e as chaves do Mercedes...
  4. Escolher que prato comer é uma tarefa difícil... Para facilitar, tire um número à sorte! Pense positivo... Mais uns dias a comer em restaurantes chineses e já pode jogar no Euromilhões... Ou fazer um exame de acesso à especialidade, que, como já vimos, vai dar o mesmo...
  5. Fixe a seguinte pseudo-palavra: CLEP. Se não souber o que comer, diga-a e pode ser que lhe tragam qualquer coisa como entrada.
  6. Lembre-se que os molhos dos restaurantes chineses NÃO SÃO azeite e vinagre... evite usar o molho picante nos CLEP's como quem tempera o bacalhau...
  7. Se, por acaso, pedir sopa de cogumelos, tenha cuidado ao verificar se os cogumelos são ou não de lata... Se o forem, obsequie os chineses com uma dissertação sobre a história do cogumelo, a textura do cogumelo e a consistência do cogumelo. Se for verdadeiramente ousado, fale sobre o significado clínico da nefropatia do cogumelo e sobre a equinococose associada ao cogumelo. Se, no meio disto tudo, o restaurante chinês estiver associado a uma casa dos trezentos e lhe aparecer um doutor qualquer com ar de vendedor de time sharing, a tentar vender cogumelos mágicos, recuse e lembre-se das tácticas do post anterior...
  8. Passada a fase da entrada, segue-se a fase de pedir o menu propriamente dito. De referir que pedir um prato num restaurante chinês, com empregados chineses, é mais ou menos como utilizar o botão "Sinto-me com sorte" do Google... Sai sempre uma coisa parecida com aquilo que pedimos, ainda que o denominador comum seja relativamente escasso... Por exemplo, se pedirmos um Sumol de Ananás, e isso não estiver no banco de dados do empregado, podemos habilitar-nos a algo de discretamente semelhante na forma e no conteúdo, nomeadamente... "Galinha com Ananás"... Certo? Certo!
  9. Ainda nesta fase, é muito usada a táctica da "vaquinha". Esta táctica incentiva a "alegria da partilha": além de supostamente servir como uma óptima táctica de engate ("Querida, partilha comigo a tua carne"...), seria óptima para acordos de paz! Porque não levar israelitas e palestinianos ao chinês, em vez de os levar para aquelas cimeiras chatíssimas?
    Estou mesmo a imaginar o israelita dizer ao palestiniano:

    - Posso provar o teu chop suey de gambas?
    - Errr... Não...
    - Vá lá!!!! Podes ficar com dois ou três colonatos!!!
    - Mas eu gosto mesmo do chop suey... Quero lá saber dos colonatos!
    - Ok, ok... Cinco colonatos, trinta camelos e uma fotografia da Sharon Stone autografada pela Cinha Jardim!
    - Hmmm, parece tentador... E então os colonos? Que se lhes faz?!
    - Eh pah!!! Que se lixem os colonos! Eu quero é o chop suey de gambas!!! Deves pensar que estou a defender os interesses da população, não?
    - Hmmm... Está bem, está bem, não me batas!... Ficamos amigos???

  10. Nunca tente, mas nunca tente mesmo, descortinar os ingredientes empregues num restaurante chinês. Tal tarefa pode revelar-se mais inglória do que tentar descobrir o segredo da fusão a frio, ou, mais banal ainda, tentar perceber as razões do défice público...
  11. Na fase final do repasto, é hora de pedir a sobremesa. Se optar pela Banana Pa-Si, lembre-se que, por muito estranhos que nos pareçam os costumes dos chineses, a água com gelo que vem com este prato não é para beber nem para lavar as mãos... Serve para arrefecer a banana... e para fazer anúncios a detergentes da loiça. (Pensam que aquela água gordurosa que eles poem nos tachos vem de onde?!) Admitamos, igualmente, que a Banana Pa-Si quente, no caso do jantar israelo-palestiniano, é uma excelente arma de destruição maciça, quando arremessada, se as conversações não chegarem a bom termo...
  12. Passado o café (eu não bebo café, por isso não falo sobre isso!), vem a conta... Aqui, há que ter em consideração que é muito feio tentar pagar com notas de monopólio, pois uma das primeiras palavras que são ministradas no briefing que é feito aos empregados, ainda no avião para cá, é "Eulo"...
PS - Se quiser apreciar um dos êxitos mais conhecidos da Ágata (uma letra do José Cid com música de Eurico A. Cebolo para flauta de nariz chamada "Parabéns a Você), basta dizer que faz anos...

PS2 - Para desfazer qualquer má interpretação: eu gosto de restaurantes chineses!!!! Ok?

2005/07/19

Como sobreviver a um vendedor de banha da cobra

Portuga que é portuga, já foi, decerto, abordado telefonicamente por uma daquelas vozes que lhe fazem duas ou três perguntas difíceis ("Como se chama o presidente da República?" é apenas um exemplo) e lhe dizem, de forma entusiástica, que ganhou um magnífico prémio - quer seja uma máquina de endireitar bananas ou uma viagem ao magnífico mundo natural de Carrazeda de Ansiães...
Depois de anotar o número de telefone e falar com um doutor qualquer, o portuga, ansioso pelo prémio, deixa o filho pequeno entregue aos avós e dirige-se, com a cara-metade, à morada indicada.

Lá, para seu espanto, até pode estar um prémio à sua espera, mas não sem uma demonstração de colchões, porcelanas ou viagens, e (pior do que isso...) uma conversa com um bicho vendedor.

Não se deixe enganar pelo ar inocente do bicho. O vendedor é capaz do pior. É treinado durante 3 meses. É alimentado a pão e água, e, ao que consta, um dos exames finais é tentar vender, utilizando exclusivamente a língua portuguesa, serviços de porcelana da Vista Alegre a Camponeses Vietnamitas.

O confronto entre o bicho vendedor e o Portuga dura quatro a cinco horas.
Nele, o bicho vendedor começa por lhe dizer que o "preço" a pagar pelo prémio é ouvir a apresentação (o mesmo é dizer, aturá-lo durante o supra-citado tempo). Começa por lhe fazer um pretenso questionário, no qual tenta saber diversos pormenores da sua vida privada... desde o seu número de calçado até ao número de vezes que tratou dos calos no último ano...
Depois, começa com um discurso, do qual se pode dizer tudo menos que é ininteligível para pessoas com idade mental superior a 2 anos, em que apresenta o produto.
A meio do discurso, a sala, que estava vazia, compõe-se com um casal de participantes.
O discurso do bicho vendedor continua durante algumas horas, até que, depois de muito massacrar, depois de revelar - ele próprio - grande parte da sua vida privada (não pensem em coisas obscenas, meninos... não é nada disso!!!) decide apresentar um preço, que, promoção das promoções, passa de um valor avassaladoramente exorbitante para outro apenas moderadamente exorbitante em apenas um estalar de dedos. E, para cúmulo, pode ser pago a crédito, durante uma vida inteira, em suaves prestações de metade do rendimento disponível... Aí (milagre dos milagres), o casal de participantes, como se lhes tivesse mordido um mosquito, fecha negócio...

O desfecho pode ser trágico: Vencido pela persistência do bicho vendedor, acaba por ser convencido (ou não) a comprar algo de que precisa tanto como um careca precisa de um pente, e a engrossar as filas de clientes dos créditos usurários de uma qualquer sociedade financeira de aquisição a crédito. Se tiver sorte, pode sair dali com um cheque para umas férias de 2 ou 3 dias nem que seja no quartel dos bombeiros voluntários de Ranholas...

O presente post indica algumas estratégias para tirar partido da situação e dar a volta por cima.

Estratégia obsessiva

Pergunte, durante a chamada telefónica, todas as características do prémio e da sessão de entrega em questão, até ao mínimo detalhe. Quanto tempo demora a levantar o prémio, se não é time-sharing, se lhe vão tentar vender alguma coisa, se vai estar na entrega a Lili Caneças, qual a cor das cuecas do bicho vendedor... Vale tudo, até vencer o seu interlocutor telefónico pelo cansaço.
Para a entrevista, leve o cronómetro. Quando o bicho vendedor começar a falar diga-lhe "Tem exactamente quinze minutos" (ou o tempo que lhe disserem que dura a sessão). Prima o botão Start do cronómetro. Quando o cronómetro atingir os quinze minutos levante-se e diga "Acabou o seu tempo".

Comentário: Sair porta fora não é muito boa opção... No entanto, o simples facto de se levantar quando acabar o tempo intimida o bicho vendedor e indica-lhe que não está disposto a comprar nada.

Estratégia da resposta ao lado

Quando lhe perguntarem o seu nome diga, por exemplo: "A decoração desta sala até é atraente, mas eu prefiro o rosa choque..." Leve a Caras e quando o bicho vendedor começar a falar, comece a folheá-la... Comece a cantar o hino nacional quando o bicho vendedor falar no produto...

Comentário: esta estratégia pode ser bastante valiosa, até certo ponto... quando o bicho vendedor perceber que consigo nada resulta e se vira para a sua cara-metade...

Estratégia da contra-guerrilha

Com que então aquela empresa enganou-o? Então troque-lhes as voltas! Comece por trocar os seus dados completamente. Por exemplo, se for médico, responda que é pedreiro... (sem qualquer desprimor para os pedreiros, leia-se...) Quando lhe perguntarem para onde costuma ir de férias, responda que nunca passou da Costa da Caparica para baixo... Quando lhe perguntarem os hobbies, diga que gosta muito de Bodyboard, mesmo que nunca tenha visto uma prancha a frente. Se o bicho vendedor o tratar por "tu", trate-o de igual forma, e acrescente uns termos daqueles muito vistos nas telenovelas, que é onde "a malta aprende a falar"... "Ya, man, tás a dropinaaaaar!!!" ou "Nix, man, nix!!!"... Se possível, utilize-os com a voz naturalmente arrastada de quem fumou duas ou três ganzas antes de ir para ali...

Comentários: Tenha cuidado para o seu companheiro/a de entrevista não se desmanchar a rir...

Estratégia "low-profile"

Esta estratégia é a que exige maior resistência. Consiste em aguentar estoicamente durante as quatro ou cinco horas que durar a sessão, ouvindo pacientemente o vendedor. Quando ele se preparar para fechar o negócio, diga-lhe simplesmente que não tem dinheiro, que nunca na sua vida se meteu num crédito (mesmo que esteja endividado até ao pescoço), e que os créditos são uma estratégia do grande capital para apanhar os trabalhadores incautos... Se ele insistir muito em contra-argumentar, desate a cantar "Avante, camaradas, avante" e mostre-lhe a T-shirt do Che Guevara que um dos seus amigos trouxe de Cuba e que leva por baixo da camisa.

Comentário: De certeza que esta é a estratégia que pode dar mais frutos. No entanto, exige uma certa dose de paciência. Teste-se a si próprio antes de a pôr em prática: se conseguir ouvir a discografia completa do Toy, seguida de todos os tempos de antena passados e presentes do MRPP e do POUS juntos, poderá ser um sério candidato a levar a bom termo a iniciativa...

Estratégia "CIA"

Vista o seu melhor fato preto. Leve os seus melhores óculos escuros. Se puder, arranje um cartão da DGCI em segunda mão. (não se esqueça de mudar a fotografia).
Quando lhe perguntarem o seu nome responda, na sua voz pausada e charmosa, de timbre grave, enquanto ajeita os óculos escuros: "O meu nome é Bunda... Jaime Bunda..."
Na altura em que lhe questionarem qual a sua profissão, pode retorquir: "Se eu lhe dissesse teria de o matar..."
Se estas duas deixas não funcionarem, saque do cartão do Ministério das Finanças e começe a falar em números, em déficits ou, ainda melhor, em justiça tributária...

Comentário: O efeito previsivel é que o bicho vendedor pense que está na presença de uma reencarnação da Manuela Ferreira Leite, dê uma desculpa qualquer como ir mudar a água às azeitonas e saia pela janela da casa de banho... E se a janela da casa de banho estiver localizada num nono andar, você não quer ser acusado de autoria moral de homicídio, pois não?! Quanto a dar a entender que gosta de autores de países lusófonos, há melhores maneiras, não acha? (Incluindo mascarar-se de Tieta do Agreste...)

Estratégia das perguntas indiscretas

Quando o vendedor começar o questionário, contrainterrogue-o. Pergunte-lhe, por exemplo, quantas vezes por semana vai a bares de engate... O que pensa da presença de tropas romenas no Afeganistão... Com que idade e de que maneira iniciou a sua vida sexual... Quais os seus hábitos toxicofílicos... O que pensa sobre a depenalização da interrupção voluntária da gravidez, quando realizada a pedido da mulher e nas primeiras 12 semanas de gestação... O que alvitra sobre a constituição europeia e sobre o sexo em grupo...
Quando estiver farto dele, pergunte-lhe se ele ganha à hora...

Comentário: Esta última questão pode ser interpretada como uma tentativa de engate, e se o bicho vendedor tiver instintos agressivos, é possível que saia de lá sem o fim de semana em Ranholas e com um olho à belenenses... Por isso, a menos que seja um Rambo (ou uma Ramba), não convém tentar isto... (ver abaixo)


Estratégia "Rambo do 5º esquerdo"

Peça a Uzi emprestada por uns momentos ao seu vizinho que é militar e dorme com ela debaixo da almofada.
Vista uma t-shirt sem mangas e umas calças de tropa, ponha uma fita no cabelo. (Note que a fita vermelha está um pouco demodé... O que está na moda este ano são as fitas azul fundo-do-mar com tons lilás... Errr... ok, esqueça o lilás... Pegue numa fita qualquer, desde que não tenha levado com o perfume "cavalex" de mais de cem pessoas...)
Roube o carro blindado da empresa que serve o banco lá do bairro.
Vá na viatura blindada até ao local combinado com o bicho-vendedor, e fale à maneira da série televisiva "Riscos"... "Eh pá... se não me dão já a mêrda das fêrias em ranholas eu parto já isto tudo..." Depois, faça o que os anarquistas fazem sempre que vêem uma cimeira dos G8: parta tudo o que estiver à sua frente!
Se eles não ficarem convencidos, leve um dê vê dê portatil, pegue nos dê vê dês com toda a colectânea de episódios de telenovelas da TVI, nas fotografias das férias, e mostre-lhos. Eles vão achar esta última abordagem muito mais violenta...


Comentário: Para quê tanta violência?! Já não bastam os telejornaizzz? Oh balha-me Deuz...


Comentário final

A melhor estratégia é a que combinar todas as anteriores... Não descanse enquanto não sair de lá o mais rápido possível, com o vale para as férias em Ranholas na mão...

Comentário ao comentário final (ao jeito do Gabriel Alves): Deivide Bécam, 1,85m, 2 filhos, 154 milhões de dólares de dívidas ao fisco, rrrrrrrepare... na técnica, na performance... um belo espectáculo de futebol!!!

2005/07/16

366

A data passou um pouco despercebida, até porque não fiz nenhum post alusivo... mas este berlogue completou 366 dias de vida no passado dia 6.
Era, no início, mais um caderno de desabafos para consumo interno, protegido com uma alcunha para que os desabafos que envolvessem o lado profissional não constituissem faltas a nível ético...

Progressivamente, fui partilhando com um número crescente de pessoas - primeiro com os amigos que já conhecia, depois com outros amigos, "puxados por esses amigos", que me conhecem apenas por uma alcunha... Depois veio a publicidade, as luzes e os programas na TVI... (Ok, ok, estou a exagerar...)
E o certo é que, no decurso de um ano muito mudou, no Mundo e em mim.

O nosso Planeta continuou a girar, apesar de parecer parado... e muitas páginas da nossa história se viraram, governos que mudaram, telenovelas que começaram e acabaram, gente que nasceu, gente que morreu... ok, vocês perceberam a ideia...

Na minha vida, neste ano, tudo mudou. Radicalmente.

Não sou nem serei mais, garanto-vos, a pessoa que começou a escrever este berlogue... E posso dizer que, por múltiplas formas, ele mudou a minha vida... sob múltiplos prismas... Certo, G.? Por falar nisso, lanço aqui um repto... Alguém já descobriu o "G-Spot"? (Não, não se ponham a imaginar coisas... estou a falar do blog dela...)

É por isso que, sempre que posso, aconselho os meus amigos/as a escrever. Alguns deles já seguiram o meu conselho. E, devo dizer, fazem-no bem... (não é por serem meus amigos...) Quanto aos outros, espero que a vida (e um pouco do meu poder persuasivo herdado das tácticas da Gestapo, da Pide e da GNR de Sacavém) façam milagres...

Uma última palavra para as pessoas especiais que foram, ao longo do tempo, lendo os meus "desabafos" (calma, JC... não te quero copiar!!!) que escrevo, acreditando em mim (e fazendo-me, consequentemente, voltar a acreditar em mim próprio) e honrando-me/abençoando-me com os seus comentários.

A todos vós, o meu obrigado... por fazerem parte do meu Mundo girar...

(Assinatura ilegível, num papel com manchas de Aisse Ti)

2005/07/05

Manifesto de extrema direita

A cidade de Lisboa parece ter sido invadida por manifestações das chamadas minorias...

Há duas semanas, na sequência do "arrastão" de Carcavelos, houve um grupo de extrema direita que aproveitou para fazer das suas: foi para pleno Martim Moniz protestar contra a imigração.

Segue-se um pequeno manifesto com problemas do mundo em que vivemos e respectivas causas, que foi encontrado nessa localização, e que uma fonte anónima, daquelas não identificadas, que se chama Joaquina, tem conta na Caixa Geral de Depósitos com o NIB 0035 00004488763400 55, duas contas na Suíca (por intermédio do sobrinho do tio Isaltino, que é taxista e percebe dessas coisas) e mora na Azinhaga dos Besouros, nº 9, 1º Esquerdo em Alcabideche, me fez chegar...


Problema: Défice orçamental
Causa: Ao invés do despesismo sistemático de sucessivos governos, da falta de continuidade de políticas, em quase todos os quadrantes, da inexistência de combate à fraude e à corrupção, os responsáveis pelo facto de estarmos eventualmente de tanga (ou completamente despidos, segundo algumas previsões) são... os pretos e os ciganos... Afinal de contas, onde é que se usa tanga? Em África, pois claro!


Problema: Portugal não ganha o festival da canção (seja lá o que isso for...)
Causa: Deve haver pretos e ciganos no júri... (Bem me parecia que aquela voz que anunciava "Dénemarque téne pointes" tinha um sotaque à moda da RTP África...)

Problema: 11 de Setembro
Causa: O Papa Gregorio que estabeleceu o calendário que nós usamos...

(Mas esperem, o Papa Gregório não era preto... há alguma coisa que não está aqui bem... Ora faz favor de reformular...)

Problema: Ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001

Causa: Bem, para já eles eram Árabes. Isso só por si já é suficientemente mau: um tipo que passa determinadas horas com o rabo virado para o ar ou é amigo do Taveira ou então não bate bem... Mas está-se mesmo a imaginar, numa feira de Carcavelos qualquer lá do sítio os Árabes a comprarem cursos de pilotagem a um ciganito, juntamente com umas Levi's, pela módica quantia de 5 euros...

Problema: Fê Cê Pê não ganha o campeonato
Causa: E quem disse que a culpa é dos árbitros? A culpa é do pessoal da Buraca, que apesar de estar a trezentos quilómetros de distância faz magia negra (lá está!!!) para que o campeonato não vá para a "Inbicta"...

Problema: Apartheid
Causa: A culpa é dos pretos. Eles é que exerceram uma acção marcadamente provocadora junto do governo de Joanesburgo. Pediram para ser separados dos brancos, e para lhes serem negadas certas e determinadas liberdades.

Problema: Fome em África
Causa: Qual fome, qual carapuça...Os pretos são todos uma cambada de anorécticos... Passam fome porque querem. Não têm é dinheiro para ler livros do Prof. Daniel Sampaio, senão até se curavam...

Problema: Listas de espera cirúrgicas
Causa: Os pretos têm os xamãs e tal... Por isso, não precisam de cirurgias... Estão nas listas de espera só para as aumentar...

Problema: Guerra no Iraque
Causa: O petróleo é preto. Por isso a culpa é dos pretos.

Problema: Trânsito na Segunda Circular
Causa: A culpa aqui é dos pretos, que fazem com que a PSP mande efectivos para a Cova da Moura, e não os mande para a Segunda Circular para empatarem ainda mais o tráfego...

Problema: Efeito de estufa
Causa: Os sacanas dos pretos e dos ciganos mandam traques para a atmosfera. Os traques contêm metano e causam, por essa via, efeito de estufa. (Nota do presidente do movimento: os traques dos arianos contém apenas dioxinas e água de rosas... Não são poluentes...)

Problema: Erupções vulcânicas
Causa: Os gases com enxofre libertados pelos vulcões cheiram fortemente a catinga. Está tudo dito, não está?

O manifesto termina com dois slogans: "Todos diferentes, todos iguais, uma pinóia"...
E... "Tens alguma coisa contra os pretos? Não? É que eu tenho um spray!" É assinado por um tal de anónimo, do qual só se sabe que tem a cabeça rapada (é uma boa forma de poupar em pentes e em champô... deve ser do défice) e tem cartão jovem...

E é tudo... espero ter contribuido para a revelação de um documento decisivo para a história contemporânea...

2005/07/04

Hipocondria II

A D. Teodora é uma velhinha com cara de avózinha que tem uma hipertensão arterial e uma bicitopénia perfeitamente assintomática, conhecida e perfeitamente estudada, pela consulta de Hematologia do hospital de referência, tendo tido alta da consulta por não se justificar qualquer estudo ou terapêutica, além das normais análises "de rotina", feitas anualmente.

(Bicitopénia é uma situação em duas das linhagens de células do sangue estão com os seus níveis diminuídos. Neste caso específico, estavam afectados os glóbulos vermelhos e as plaquetas.)

No entanto, o facto de não haver sintomas nem se justificar outras medidas, não obsta a que a D. Teodora "torre" mensalmente a paciência à Drª Teresa, com as oscilações dos valores de plaquetas... (é normal que os valores oscilem numa determinada linha de base...)

Quando a Drª Teresa sugeriu que a utente iniciasse outro anti-hipertensor (enalapril) além do que já tomava a D. Teodora tomou-o durante uns dias mas depois recusou-se a fazê-lo mais, porque tinha lido no papel que acompanha os medicamentos que pode, num reduzidíssimo número de casos (tão reduzido que nenhum dos médicos com quem contactei observou esse efeito), e quando tomado em concomitância com certos medicamentos, baixar os níveis de plaquetas...

Além disso, dizia, já fazia 5 mg de Olcadil (ansiolítico). Ora, com os 6,25 mg de Carvedilol que já fazia eram 11,25 mg. Com mais 5 mg de enalapril já eram 16,25 mg!!! Isso não seriam miligramas a mais?

Nem explicando que estava a misturar alhos com bugalhos quanto aos "miligramas", e que o enalapril é perfeitamente seguro, a D. Teodora se convenceu...

Naquele dia, a senhora contou-nos que um dia, tinha tido uma ligeira indisposição, com um pequeno desmaio (que em mediquês se chama "síncope" e que não é muito grave se ocorrer de forma transitória e isolada, como tinha sido o caso)...

... E sôtora - disse a D. Teodora, dirigindo-se à médica de família, a Drª Teresa - quando desmaiei, fui ao farmacêutico da farmácia Abrantes que, não desfazendo é como se fosse meu médico, e ele mandou-me fazer análises, pelo particular, que me custaram três euros cada. Veja lá!!!

Eu e a Drª Teresa olhámos incrédulos um para o outro... Que um farmacêutico ou o ajudante da farmácia "prescrevam" medicamentos, já não é assim muito de aceitar... (Recentemente,com o surgimento dos genéricos, as farmácias fazem autênticos negócios da China...)
Agora, um farmacêutico a pedir meios complementares de diagnóstico, nunca tinha visto!!!

- Quando viu estas análises, o cardiologista particular a quem eu fui disse que eu tinha uma anemia grave, que tinha de ser investigada...

E lá estavam a hemoglobina e as plaquetas nos níveis habituais para a D. Teodora, baixos em comparação com a maior parte das pessoas...

Quando a consulta terminou, a Drª Teresa só me disse: "Eu preciso de um intervalo!..."
De facto, o dia foi bastante longo. Desde tentar fazer uma consulta com uma senhora cabo-verdiana que não falava uma palavra de português, e percebia mal e porcamente a língua de Camões, até pedir um eco-doppler a uma emigrante que ia aos Estados Unidos ver a filha, e queria a opinião de um médico americano que lhe levasse os olhos da cara e lhe dissesse o mesmo que os congéneres portugueses (porque o que é nacional, na óptica tipicamente portuguesa, é mau...), saiu-nos de tudo na rifa...

(Porque a paciência tem limites, e ninguém é de ferro...)