2004/10/10

O palhaço

No outro dia, estava eu triste, saturado, stressado com uma situação daquelas que teoricamente não nos deviam stressar, porque a vida, ao que parece, é demasiado curta para isso - diz quem sabe -, e vi dois palhaços.
Não sei se eram ricos ou pobres, pareciam apenas um casal de palhaços, daqueles que têm um nariz vermelho, como um tomate, e as maçãs do rosto pintalgadas como se se tratassem de crianças travessas que tivessem assaltado a caixa de maquilhagem da mãe.

Disse-lhes: "Olá colegas!"

Ele estendeu-me uma mão e, no exacto momento em que eu estendi a minha, retirou-a e estendeu outra. Repetiu isso durante mais algumas vezes...
Ela, por seu turno, começou com vénias incessantes.

Arrancaram-me uma gargalhada...

Quando dei por mim, estava a virar-me para a parede e a cumprimentar o elevador. E ri-me, ri-me da forma mais inocente possível, como uma criança que vai ao circo pela primeira vez...

No caminho para casa, pensei em como seria bom ser palhaço.
Se calhar até já o sou... quando ponho um pouco de nonsense na vida real... Quando me ponho a brincar com os meus doentes... (crianças e adultos...) Tal valeu-me acusações, durante a fase de minha vida que durou seis meses e terminou (felizmente) em Junho, de incompetência profissional e de falta de maturidade.
Talvez tivessem razão. Ou talvez não...
Talvez tivessem razão a partir do momento em que, como ser humano que sou, estou e estarei sempre (espero) a evoluir... seja o que for que estiver a fazer (nem que seja a ver a Quinta das Celebridades, os meus cabelos, as minhas unhas, a minha barba estão a crescer...). Nesse aspecto, creio que nunca serei completamente maduro (acabado...) porque o dia em que o for, será o dia em que estagnarei.

Talvez tivessem razão a partir do momento em que eu, por vezes, sou obrigado a ver o mundo como se eu fosse uma criança. Mas não somos todos crianças, que um dia cresceram? Ou será que nos esquecemos disso? Além disso, é uma forma de defesa, viver um dia de cada vez... Ok, talvez eu não viva tanto um dia de cada vez... Por isso empreguei a expressão "por vezes"...

Talvez me fizesse falta ser um pouco mais "palhaço", profissionalmente e na vida real, porque como diz o povo, rir é o melhor remédio. Se não rirmos estupidamente das desgraças que passam por nós dia após dia, das sacanagens do vizinho do lado, que tenta passar por cima de nós o tempo todo, o que é que vamos fazer? Chorar?!

É por isso que eu queria, um dia, um minuto, um segundo... ser palhaço. E uma coisa é certa... Nunca mais vou chamar "palhaço" a ninguém, a não ser como elogio!

PS (12/10) - Exactamente no dia seguinte àquele em que eu escrevi este post, reencontrei os palhaços.
Desta vez, faziam uma "caravana" com os miudos atrás, e travaram (literalmente) para me cumprimentar. Fiquei a olhá-los com uma lágrima marota no olho direito, a desejar secretamente um dia ser livre como eles...
Obrigado Operação Nariz Vermelho!

3 comentários:

Violet disse...

ser palhaço eh uma profissao nobre..como tu és.
tava a reler e a pensar que sim, realmente eh esse o teu holy grail, como Leao... tornar te criança, cultivar a vida e a alegria. e fazem muita falta. hoje parece me a coisa mais importante que há.
um abraço forte.
viviana

Rute disse...

"Mas não somos todos crianças, que um dia cresceram?" Não, ainda somos essa mesma criança, não deixámos de a ser. Muitas vezes sinto que é quando gargalho como o fazia em criança que me sinto feliz. Como é bom ser criança. Como é bom que nos façam rir e nos façam sentir que ela está aqui sempre.
Rute

IceTeaAddict disse...

Concordo em absoluto! Somos crianças, que um dia cresceram, mas continuamos a ser crianças...
Luís