2004/12/20

Sobre o Natal...

Hoje apeteceu-me falar sobre o Natal...

Apeteceu-me falar sobre essa época.
Apeteceu-me falar sobre o tempo em que os pássaros chilreiam... nas gaiolas dos habitats dos seres humanos (isto para quem tem pássaros em casa, e não tenha gatos com acesso fácil às gaiolas);

Apeteceu-me falar sobre o tempo em que a EDP contribui para revitalizar o tecido económico nacional - o nosso e o da Arábia Saudita, porque a conta sobe monstruosamente (bendito seja o santo aquecedor) e em que os negociantes de gelados e de frigoríficos deitam as mãos à cabeça... ;

Apeteceu-me falar sobre o tempo em que os seres humanos neste país à beira mar plantado, que outrora passavam trinta quilómetros em autêntica guerra civil, enfrentando uma verdadeira multidão de "potenciais inimigos", que à falta de carabinas e de outros objectos potencialmente letais, se têm de contentar com os seus tanques kamikaze de alta cilindrada (ou não...) quais Panzer endiabrados, interrompem docemente as hostilidades no dia 24 (a guerra civil pode durar 400 km neste dia, para despedida...), reiniciando-as no dia 26 com dose igual (porque o país não pode parar...);

Apeteceu-me falar sobre o tempo de paz, em que os seres humanos, por mais ameaças de morte ou tentativas de envenenamento com dioxinas que tenham recebido da sogra durante o resto do ano, se vêm agora na obrigação de partilhar com elas lautos e agradáveis almoços ou jantares de Natal, e trocar agradáveis presentes, para gáudio dos comerciantes;

Apeteceu-me falar sobre o tempo em que os fabricantes de chocolates, os fabricantes de velas, os fabricantes de brinquedos chineses, o Belmiro de Azevedo e as antigas casas dos trezentos lucram a valer, bem como os banqueiros dos paraísos offshore onde alguns deles têm as sedes...

Apeteceu-me falar sobre o tempo em que os media se multiplicam em festas de Natal. Não há hospital, por mais pequeno que seja, que não se veja, durante este mês, nas luzes da ribalta, e não seja pressionado a, numa sempre fresca injecção de cultura, acolher um maravilhoso "pleibéque" feito pelos melhores especialistas dessa arte nossa praça (a começar na Ágata e a acabar no Toy). Temos de admitir que é sempre refrescante e educativo ver o Emanuel a cantar o Pimba para crianças...

Apeteceu-me falar sobre o tempo em que se multiplicam os peditórios, multiplicam-se os ceguinhos no metro,multiplicam-se as vendas de Natal (como se o ser humano ficasse mais sensível apenas na altura do Natal...)

Apeteceu-me falar sobre o tempo em que os Pais Natais, qual ovelha Dolly, são clonados em tudo quanto é sítio... (Se São Nicolau viesse cá abaixo neste momento, imagine-se o que ele ia lucrar com os direitos de imagem sobre os penicos, T-Shirts, roupa interior, relógios, velas, preservativos e outros items de suma importância...)

Apeteceu-me falar sobre o tempo em que qualquer marca que se preze, seja de detergente para limpar casas de banho ou de parafusos e porcas, se autodenomine com a honrosa menção de "oficial do Natal"...

Apeteceu-me falar sobre o tempo em que as Crianças do Coro de Santo Amaro de Oeiras atingem o número um dos tops, pelo menos a julgar pela publicidade que lhe é dada no metropolitano (Elton John, volta, estás perdoado...) e em qualquer centro comercial... a começar no mais pequeno de Alcabideche... e a acabar no Colombo... (E viva o tio Belmiro, pois então!!!)

Mas apeteceu-me também falar sobre aspectos positivos: é agradável sentir o lume na lareira a crepitar enquanto se contam histórias lá na santa terrinha; a família reunida (ainda que com as divergências do costume) ; o sorriso das crianças (ainda que como a minha prima de "fabrico mais recente", tenham medo do Pai Natal) ; a paz, ainda que seja por um dia; o facto de receber e enviar mensagens a pessoas com quem não contacto desde... o Natal do ano passado :P

No entanto, o mais importante no Natal é, para mim, aquilo que não se vê, aquilo que não se palpa, mas aquilo que se sente: a Paz (interior e exterior), a Esperança (não, Esperança não é nome de sogra...), o Amor (não necessariamente aquele que se vê nas telenovelas ou nos filmes do canal 18, mas o Amor universal e incondicional)...

E é isso que eu gostava que se prolongasse durante o resto do ano, para mim e para os outros... porque, se olharmos com atenção, "Natal, é quando o Homem quiser..." :P

Um Santo Natal, dentro do possível!

2 comentários:

Anónimo disse...

e viva a época mais cínica do ano :D
do Ó

JC disse...

Um Feliz Natal também para ti, L.! (não sei que queres manter ou não o anonimato, por isso vai assim...)
Um abraço deste amigo (um daqueles da circunstância, dos que estariam tvz no telemóvel antigo)!
Já agora, podes passar pela minha humilde residência em
http://desabafosdeummedico.blogspot.com
Serás sempre benvindo!