2005/01/22

Closer...

Fui ver há pouco um filme...
Eu sei que me identifico com a maior parte dos filmes, com um ou com outro personagem... com uma panóplia de músicas, e que digo sempre "Desta vez foi diferente..."... Mas desta vez foi diferente mesmo...
Este filme deixou-me a pensar (não é que os outros filmes não me deixem a pensar também...), mas este em particular deixou-me a pensar muito.
O filme chama-se "Closer". O título em português é qualquer coisa como "Perto demais".

Eis o "teaser" do Público.

"É a história de quatro estranhos - Anna, Dan, Alice e Larry -, dos seus encontros, atracções fatais e traições, num perigoso jogo de sedução de que ninguém sairá incólume. Anna (Julia Roberts) é uma fotógrafa bem sucedida que, após o seu divórcio, se envolve com Dan, que se torna seu amante mesmo depois de Anna se voltar a casar com Larry. Dan (Jude Law) é um aspirante a escritor que ganha a vida a escrever obituários. Alice (Natalie Portman) é uma jovem que encontra Dan e lhe conta que não tem família, só tem a roupa que traz vestida e que chegou a Londres fugida da América e de um namorado demasiado possessivo. Larry é um dermatologista que começa a jogar à defensiva depois de lhe partirem o coração, magoando todos à sua volta. "Perto de Mais" foi realizado por Mike Nichols, realizador da premiada série "Anjos na América", recentemente exibida na televisão portuguesa. "

A realização está fantástica - parece que estamos a viver uma gigantesca peça de teatro (aliás, o argumento é adaptado de uma peça!). A banda sonora (que é uma das coisas que eu valorizo mais num filme, saiba-se lá se é por, enquanto adolescente, ter infernizado a paciência dos vizinhos de baixo, ao ter exercitado os meus dotes de percussionista no piano...) também está bastante interessante.
O que mais me despertou a atenção no filme, no entanto, não foi nada disto.
Foi o facto de o filme falar da vida real (não somos todos estranhos neste planeta, até prova em contrário?)
Fala sobre o facto de sermos apenas apenas peças de algo que é mais que um jogo de xadrez, em que as jogadas se multiplicam, e em que as peças manipulam a si próprias e às outras... ;
fala sobre verdade e sobre mentira ("a mentira é a moeda de troca do Mundo em que vivemos...") - como a mentira que as pessoas querem ouvir, dita na altura certa, em detrimento da verdade, pode levar alguém a conseguir o que quer...
fala sobre a relatividade do Amar e ser Amado,
fala sobre como o facto de amarmos uma pessoa, só por si, é insuficiente para a mantermos junto de nós;
fala sobre como nem sempre aqueles que jogam o jogo mais "limpo", conseguem os melhores resultados... e ficar com a mulher dos seus sonhos no fim do filme...

Fez-me pensar na minha vida.
Fez-me pensar sobre as vezes em que me senti manipulado (sobretudo quando ingressei no mundo do trabalho e me apercebi da realidade do "faz panelinha enquanto o outro não está a ver, sobe nas costas do outro, e se puderes pisa-o..."
Fez-me também pensar sobre algo que aconteceu há quase três anos, e que ainda hoje me marca...(e creio que sempre me marcará).
Em particular, fez-me pensar como em determinadas alturas da nossa vida aquilo que sentimos por alguém é relativo ao tempo, ao espaço e à circunstância. (Podemos pensar que esquecemos uma pessoa, mas depois o facto de não a termos esquecido, reflecte-se nas nossas atitudes para com outra!)
Fez-me pensar sobre como a sinceridade expressa em palavras (o que é a verdade senão subjectiva a um certo momento e a uma certa circunstância) pode magoar mais do que a mentira que a outra pessoa quer ouvir, ou do que uma verdade que não se diz...
Fez-me pensar, em como o facto de amar profundamente uma pessoa (e esse sentimento ser, à partida, recíproco), não foi suficiente para a manter junto de mim.

Lembro-me que essa pessoa de quem falo me perguntou, da primeira vez que nos encontrámos, se acreditava no Amor...

Na altura (antes de nos envolvermos) respondi-lhe que não acreditava. A minha visão estupidamente romântica e sonhadora da vida tinha sido obscurecida por muitos amores platónicos... Além disso, como é que eu podia acreditar num puto completamente tresloucado que anda para aí a atirar setas?!

Foi talvez essa visão obscurecida da vida que me fez dizer-lhe que acreditava que ela não era a mulher da minha vida...

Pode ser que não fossemos talhados um para o outro (quem o saberá?), mas acredito que a amei (e um bocadinho de mim vai continuar a amar, não obstante o facto de os caminhos que trilho se virem a cruzar com os de outras pessoas - se eu não me meter num convento, que é algo que não está nos meus projectos...) com tudo aquilo que tinha...

Por isso, se ela me fizesse a mesma pergunta, acho que responderia: "Já acreditei no Amor... pelo menos durante o tempo em que estivemos juntos..."

Não sei se ainda acredito, ou se vou voltar a acreditar... (Prognósticos só no fim do jogo...) mas o que é certo é que este filme me lembrou, apesar da minha visão ainda estúpidamente romântica (ou romanticamente estúpida) da vida, que, tal como alguém em conversa me disse hoje, a princesa encantada já está casada com o príncipe (ou com o lobo mau... :P) há muito tempo...



PS - Este post foi feito a ouvir, compulsivamente, um poema de um dos meus letristas preferidos (Carlos Tê), musicado pelo Rui Veloso.

PS2 - Como dizia um poeta que, sem um olho, via mais que muitos seres humanos, não andará "só pera mim o Mundo consertado"? (ver poema aqui)

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