2005/01/01

Mais uma volta, mais uma viagem... (Bom ano novo)

Os seres humanos aqui do sítio, felizmente, gostam de comemorar tudo o que é acontecimento.

Um exemplo disto é o facto de comemorarem, sempre que possível, a introdução de um estranho objecto redondo numa rede, no âmbito de um estranho desporto em que uma equipa de 11 homens seminu luta, sobretudo com os pés, mas também com unhas e dentes, contra uma outra equipa com igual composição, sendo que uma das equipas (cuja escolha é feita, ao que parece, de acordo com a ligação a agentes de viagens, ou a outro tipo de agentes...) é coadjuvada na sua tarefa por uma outra equipa de quatro pessoas, em que um deles usa um apito...

Mas não é para falar deste desporto que eu hoje escrevo...
Vou falar de outro desporto chamado reveillon...

O planeta Terra, sempre apressado, decidiu completar mais uma volta em torno do Sol... E os portugueses comemoraram esse facto avidamente mais uma vez...

Todos os anos é assim.

A primeira prova deste desporto é muito simples. Durante o dia 31 de Dezembro, os supermercados esgotam os seus stocks de todo e qualquer vinho que se assemelhe ou aparente com álcool (incluindo o álcool etílico, para os "apaixonados" pela contrafacção), de passas, de broas castelar, bolo rei e bolos afins; a bela da cueca azul torna-se, ainda que por um dia, líder incontestável do mercado do vestuário; é destinado uso ao par de meias que recebemos com um sorriso amarelo durante o Natal ("errr... era mesmo o que eu queria..."); as operadoras de telemóvel esfregam mais uma vez as mãos de contentes à conta das mensagens escritas enviadas...

Por isso, o primeiro objectivo é adquirir cada um destes items, utilizar o par de meias e enviar um sms ao máximo número de amigos e conhecidos, e até mesmo a pessoas que não se conheça de lado nenhum...

À noite, a tensão cresce, minuto a minuto, antes das 12 badaladas. Nos 10 últimos segundos daquilo a que deu um dia na veneta a um papa chamar de "ano", todas as pessoas começam numa contagem decrescente, como se a Agência Espacial Europeia fosse lançar um foguetão com um novo "armário", digo, satélite português para o espaço (com a devida vénia e reverência ao projecto e à sua utilidade...) E é então que, num fenómeno nunca visto, talvez um "snack attack" colectivo (Garfield, amigo, estás perdoado, volta!), os tugas engolem à pressa 12 passas de uva, e empurram-nas com uma flute de champanhe bebida de um trago... (o objectivo desta outra prova é fazê-lo no menor tempo possível...)

Depois, é altura de fazer o máximo de barulho que pudermos. Há muitos, muitos anos, as civilizações que nós apelidamos de primitivas, mas em alguns aspectos talvez não fossem assim tão primitivas quanto nós as pintamos, faziam-no para espantar os espíritos maus... Nós, que como seres civilizados que somos já não acreditamos nessas coisas, fazemos o máximo de barulho possível para fazer concorrência ao vizinho do lado.

E nesta prova desse magnífico desporto chamado reveillon, vale tudo menos tirar olhos:

Há quem apite... de tudo um pouco: apitos propriamente ditos, buzinas dos carros, as buzinas dos camiões, as sirenes dos navios... (Outros para não ficarem atrás, usam as sirenes e os pirilampos do INEM, mas isto normalmente acontece porque cairam para o lado de tanto beberem...)
Outros ainda, pegam no jogo de panelas comprado numa qualquer loja em que a Filipa Vacondeus tenha participação activa e vão mostrar alegremente os seus dotes de percussionista para a via pública.

Enquanto se faz o tal barulho espanta-espíritos, corre-se para a rua para ver o magnífico fogo de artifício que alguma alma caridosa teve a bondade de preparar para entreter a populaça...

A seguir, corremos para os telemóveis e entra em cena outra prova deste desporto - desta vez o objectivo é desejar bom ano novo ao maior número possível de familiares e amigos no menor tempo possível... Normalmente, só ao fim de 2 horas é que o conseguimos (nalguns casos só às 9 da manhã do dia seguinte...)


A alegria, já bem regada, contagia todos. Esquecemos todos os problemas com que nos deparamos no dia a dia e desejamos os incontornáveis Paz, Amor (ou como um artista que eu conheço e não digo quem é, que vi outro dia no Telejornal da TVI, que a "Felicidade transborde para toda a Humanidade"... E viva a poesia etílica!...)
É nessa altura que se exumam os restos mortais de todo e qualquer carnaval anterior e entra em cena a música brasileira. Digo isto porque os portugueses têm 2 alturas preferidas para ouvir música brasileira - no fim do ano e no carnaval... Fora desse contexto, e ressalvando-se as telenovelas da globo, os restaurantes de rodízio, e quando um qualquer DJ coloca música para agradar a gregos e troianos, a música brasileira caiu um pouco em desuso (a Fafá de Belém, a Daniela Mercury e o Netinho que me perdoem...)
É nesse momento que o artista copofónico da noite que há em cada português que beba mais do que a conta, exibe os seus dotes de samba...

A noite pode continuar de várias formas: para alguns nos serviços de urgência de algum hospital, para outros numa discoteca pela noite dentro. De uma forma geral, mais tarde ou mais cedo, a noite acaba numa "cama qualquer perto de si"... (de preferência a "sua", mas pode não o ser forçosamente... :P)

Depois de todas estas provas, o resultado não importa... O que importa é a noite ser "sempre a abrir, porque para o ano ainda está para vir..."

PS - A minha passagem de ano foi uma festa muitissimo intimista... com mais umas 1000 pessoas... Foi uma das melhores da minha vida, não só pelo ambiente que vivi, como pela magnífico lugar onde estive, como também pelas pessoas especiais - não desfazendo em todos as outras pessoas especiais que conheci e conheço - com quem partilhei o momento.
E para terminar, faço minhas as palavras do tal artista da TVI, que teve direito aos seus cinco segundos de fama com uma frase retirada de um qualquer pacote de batatas fritas... e acrescento, um bom ano novo! :)

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