2005/02/12

My (fuzzy) Valentine...

A humanidade tem costumes estranhos... Parece que têm dias certos durante o ano para fazer certas e determinadas coisas.
Senão vejamos:
No Natal, desata tudo a enviar SMS's, a oferecer ao próximo os melhores cacos que encontrar na loja dos trezentos mais próxima, e a participar em supostas campanhas de solidariedade organizadas para a altura, revertendo muitas delas a favor de empresários desfavorecidos...
No Ano Novo, toda a gente engole passas, champanhe aos tragos, desata a bater com tachos e a telefonar à família toda...
No Carnaval, a malta vai toda para desfiles, exercitando os passos de Samba (em Cuba é a Salsa... Um abraço para Cuba - a do Fidel e a do Alentejo...), e gozando, através de maravilhosos bonecos e carros em cortejo, com tudo quanto é facto, personagem ou acontecimento.
Isto, independentemente do facto de, no dia a seguir, cairmos na realidade de todos os dias, no chefe que não pára de nos chatear a mioleira, nos Prozacs e noutras drogas, cuja legalização não foi reivindicada pelo Bloco de Esquerda, porque já são legais...
Sim, acho que Carnaval devia ser todos os dias...
Outro desses dias, é o dia de São Valentim...

Ainda me lembro do primeiro dia de São Valentim que vivi.
No infantário tinha uma namorada. Chamava-se Joana. Vivíamos na mesma rua e brincávamos juntos, e toda a gente dizia que éramos namorados... Só isso...
Um dia, instigado pelas educadoras, ofereci-lhe um lenço. Foi uma das coisas mais românticas que fiz. No dia a seguir, era alvo de troça de meio infantário... (Os putos adoram gozar com os "namorados", até à adolescência, em que preferem ser troçados e aproveitar as hormonas, com tudo o que isso tem de bom e de mau...)
Tolhidos por esse sentimento também humano que é a vergonha, eu e a Joana deixámos de ser namorados nesse mesmo dia.
No entanto continuamos a ser amigos, apesar de não nos vermos há algum tempo... Seguimos as nossas próprias vidas, diferentes, mas creio que temos sempre presente que algum dia os nossos caminhos cruzaram-se... mesmo que num inocente amor de criança...
(Apeteceu-me partilhar isto...)



Falando ainda do dia de São Valentim...
Penso que qualquer pessoa que tenha o nome de Valentim deve ser considerado santo... (Imaginem só a tormenta, digna dos céus todos e mais algum, que será acordar todas as manhãs e ouvir o pai dizer "Valentim, vai buscar o jornal...")
No entanto, a Igreja Católica não pensa desta maneira.
Dos Valentins que existem por aí aos pontapés, só se resolveu a conceder a categoria de Santo a dois personagens da História.

Um deles era um padre que ajudava os cristãos a fugir das cadeias romanas... Um verdadeiro Rambo daqueles tempos... Uma das vezes, teve azar: foi apanhado, tendo sido torturado e decapitado...

O outro, para não variar, também era padre...
Rezam as crónicas que, na altura, o imperador Cláudio II, no século III, constatou que os melhores mancebos eram solteiros. Daí que tenha impedido os que ainda não tinham feito a respectiva despedida, com as strippers da altura, de passar à condição de casado...
Ora acontece que o bom do Valentim até gostava de fazer casamentos, (na frase "Crescei e multiplicai-vos, ele gostava mais da parte do multiplicar...) e à falta de agências matrimoniais na altura, deu-lhe na veneta para, aproveitando uma velha tradição pagã (o festival Lupercália, que era mais ou menos um Woodstock, mas virado para o engate...) resolveu crir uma.
Como era padre, dominava mais um dos passos na cadeia de produção, e começou a casar, em segredo, os jovens pares de namorados...
Foi descoberto e foi preso. Na prisão, ao que consta, mandou os votos de castidade às urtigas (ahhh, grande Don Juan!!!) e apaixonou-se pela filha do carcereiro, enviando-lhe cartas que eram assinadas com a frase "Do teu Valentim".
Não sei se ele conseguiu o objectivo mas o certo é que acabou torturado (não sei se pela filha do Carcereiro, qual Tiazinha romana...) e - adivinhem - decapitado... (E ainda dizem que o Sado-Masoquismo só apareceu depois... Safa!!!)
Resta dizer que, se fosse hoje, não teria tanto sucesso... com o que para aí vai de declínio nos casamentos... e com a concorrência que há no ramo, das agências matrimoniais e da Internet...

A Igreja da altura, à falta de filmes americanos para entreter a populaça, adorou as iniciativas, aproveitou o facto de ambos se chamarem Valentim, e reservou-lhes o dia 14 de Fevereiro na sua complicada agenda...
Hoje em dia, o dia é também chamado de dia dos Namorados, para gáudio dos fabricantes de lingerie, preservativos, postais e coisas afins...
As cartas, essas, foram substituidas por mails, sms, cartões virtuais e tudo o mais que a indústria inventou. Podem dizer verdades ou as "mentiras que fazem os outros felizes".
Quanto ao estranho costume que os seres humanos que supostamente se amam têm de dar objectos uns aos outros neste dia, de se desdobrarem em jantares especiais, em sessões de cinema especiais e, depois de inúmeras juras de amor especiais, passarem o resto da noite de uma forma "especial" (pode ser por exemplo no Hotel, em vez de ser no Fiat Uno estacionado num qualquer descampado...) , não tenho nada a dizer... Cada um faz o que lhe dá na telha...

Mas, por favor, deixem-me em paz... Não me obriguem a aturar os anúncios a relógios, a jantares, e até a penicos, os intermináveis programas sobre o São Valentim que metem o Toy, o Emanuel e a Àgata, e a ficar deprimido só porque neste momento não tenho namorada... ou não amo/sou amado, no sentido estrito da palavra...

Deixem-me amar (e quem diz amar, diz outras coisas para maiores de dezoito...) quando quero, quando tiver disponibilidade, e quando tiver reciprocidade, e não apenas porque existiu um bom de um padre, que se calhar até gostava de copos e mulheres nuas, que desatou para aí a fazer casamentos!

Obrigado! Do fundo do coração (não sei se o "fundo do coração" é a base ou o ápex do dito... mas não interessa...)

Do teu Valentim, digo, do teu IceTeaAddict




PS - (14/02) - Hoje, no metro, ao ler o jornal, tendo por ambiente mais uma música da bela da banda sonora dos best hits do Elton John, em flauta de pã, constatei que o dia de São Valentim é também, segundo a Sociedade Europeia de Andrologia o dia europeu da disfunção eréctil...
Por isso, companheiros, amigos, palhaços desta vida... Não se preocupem se, por qualquer motivo, o vosso motor perder os cavalos todos logo, durante a noite especial... Porque hoje, só hoje, ele ao menos tem um dia que é dele e só dele...
Não abusem é daquele combustível azul que se vende nas farmácias, porque senão correm o risco de o motor gripar de vez, e dar origem a mais uma daquelas histórias bizarras dos serviços de urgência...
Um bom dia para todos!

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