Gourmet ou alarve, a qualquer um de nós, desde tenra idade, os pais chagam o juizo:
- Usa talheres para comer! (como se nunca tivessem provado feste fude)
- Não arrotes à mesa... olha que é feio! (Sim... vão eles para a Arábia Saudita e logo vêem...)
- Não metas os dedos na tomada.. (Errr... Espera aí, mas não há tomadas nas mesas... Pronto, eu devia ter feito o ciclo!!!... Mas não interessa!)
Por isso, e para vos chagar mais um pouco o juízo, hoje, decidi colocar aqui uma das obras inéditas da Paula Bobone: um pequeno manual de boas maneiras para restaurantes chineses...
- Quando lhe derem as toalhinhas para limpar as mãos, evite perguntar se não têm uma com a bandeira do Sporting (ou do Porto).
- Evite colocar a toalhinha das mãos na testa, exercer os seus dotes de ventríloquo e falar como se estivesse num filme do Bruce Lee...
- Se pertence àquele grupo de pessoas que têm instintos sadomasoquistas, saiba que é muito feio autoflagelar-se, com a toalhinha das mãos, em público... A não ser que a TVI esteja presente... Aí, quanto mais se autoflagelar, melhor!!! Se for esse o caso, comece a dizer que vive numa barraca e não tem dinheiro para viver e oculte, da melhor maneira possível, os fios de ouro e as chaves do Mercedes...
- Escolher que prato comer é uma tarefa difícil... Para facilitar, tire um número à sorte! Pense positivo... Mais uns dias a comer em restaurantes chineses e já pode jogar no Euromilhões... Ou fazer um exame de acesso à especialidade, que, como já vimos, vai dar o mesmo...
- Fixe a seguinte pseudo-palavra: CLEP. Se não souber o que comer, diga-a e pode ser que lhe tragam qualquer coisa como entrada.
- Lembre-se que os molhos dos restaurantes chineses NÃO SÃO azeite e vinagre... evite usar o molho picante nos CLEP's como quem tempera o bacalhau...
- Se, por acaso, pedir sopa de cogumelos, tenha cuidado ao verificar se os cogumelos são ou não de lata... Se o forem, obsequie os chineses com uma dissertação sobre a história do cogumelo, a textura do cogumelo e a consistência do cogumelo. Se for verdadeiramente ousado, fale sobre o significado clínico da nefropatia do cogumelo e sobre a equinococose associada ao cogumelo. Se, no meio disto tudo, o restaurante chinês estiver associado a uma casa dos trezentos e lhe aparecer um doutor qualquer com ar de vendedor de time sharing, a tentar vender cogumelos mágicos, recuse e lembre-se das tácticas do post anterior...
- Passada a fase da entrada, segue-se a fase de pedir o menu propriamente dito. De referir que pedir um prato num restaurante chinês, com empregados chineses, é mais ou menos como utilizar o botão "Sinto-me com sorte" do Google... Sai sempre uma coisa parecida com aquilo que pedimos, ainda que o denominador comum seja relativamente escasso... Por exemplo, se pedirmos um Sumol de Ananás, e isso não estiver no banco de dados do empregado, podemos habilitar-nos a algo de discretamente semelhante na forma e no conteúdo, nomeadamente... "Galinha com Ananás"... Certo? Certo!
- Ainda nesta fase, é muito usada a táctica da "vaquinha". Esta táctica incentiva a "alegria da partilha": além de supostamente servir como uma óptima táctica de engate ("Querida, partilha comigo a tua carne"...), seria óptima para acordos de paz! Porque não levar israelitas e palestinianos ao chinês, em vez de os levar para aquelas cimeiras chatíssimas?
Estou mesmo a imaginar o israelita dizer ao palestiniano:
- Posso provar o teu chop suey de gambas?
- Errr... Não...
- Vá lá!!!! Podes ficar com dois ou três colonatos!!!
- Mas eu gosto mesmo do chop suey... Quero lá saber dos colonatos!
- Ok, ok... Cinco colonatos, trinta camelos e uma fotografia da Sharon Stone autografada pela Cinha Jardim!
- Hmmm, parece tentador... E então os colonos? Que se lhes faz?!
- Eh pah!!! Que se lixem os colonos! Eu quero é o chop suey de gambas!!! Deves pensar que estou a defender os interesses da população, não?
- Hmmm... Está bem, está bem, não me batas!... Ficamos amigos???
- Nunca tente, mas nunca tente mesmo, descortinar os ingredientes empregues num restaurante chinês. Tal tarefa pode revelar-se mais inglória do que tentar descobrir o segredo da fusão a frio, ou, mais banal ainda, tentar perceber as razões do défice público...
- Na fase final do repasto, é hora de pedir a sobremesa. Se optar pela Banana Pa-Si, lembre-se que, por muito estranhos que nos pareçam os costumes dos chineses, a água com gelo que vem com este prato não é para beber nem para lavar as mãos... Serve para arrefecer a banana... e para fazer anúncios a detergentes da loiça. (Pensam que aquela água gordurosa que eles poem nos tachos vem de onde?!) Admitamos, igualmente, que a Banana Pa-Si quente, no caso do jantar israelo-palestiniano, é uma excelente arma de destruição maciça, quando arremessada, se as conversações não chegarem a bom termo...
- Passado o café (eu não bebo café, por isso não falo sobre isso!), vem a conta... Aqui, há que ter em consideração que é muito feio tentar pagar com notas de monopólio, pois uma das primeiras palavras que são ministradas no briefing que é feito aos empregados, ainda no avião para cá, é "Eulo"...
PS2 - Para desfazer qualquer má interpretação: eu gosto de restaurantes chineses!!!! Ok?
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