2005/03/09

Consultório - Os choques

Hoje, em mais uma edição do nosso Consultório, responderemos a mais uma pergunta de um dos nossos leitores, tão comuns neste tempo de dúvidas existenciais...

Caro Aisse Ti
Tenho ouvido, com estes ouvidos que a Terra há de comer, falar muito sobre choque tecnológico.
O que é o choque tecnológico? E já agora, o que é o choque fiscal? Será que as companhias de seguros cobrem isso tudo?
Almerindo Fonseca - Pulo do Lobo - Agricultor


Caro senhor:
O choque tecnológico é algo de extremamente simples e fácil de fazer.
Basta seguir os seguintes passos:
  1. Pegue num computador pessoal (não importa ser um portátil ou um computador de secretária. Basta ter tudo a começar pelo prefixo Giga, e custar mais do que os próprios olhos da cara)
  2. Dirija-se ao seu escritório, ou ao de um conhecido seu, que tenha um computador central daqueles que são capazes de pôr os olhos em bico a qualquer japonês que se preze, e que custe os tais olhos da cara, elevado a trezentos e quarenta.
  3. Utilize o seu computador (o que custou os olhos da cara) como arma de arremesso, tendo como alvo o tal computador central que custou uma quantia obscena, capaz de fazer corar qualquer economista menos bem comportado. Destrua-o completamente.

É pronto, está feito o choque tecnológico. Não se preocupe com as ameaças do seu patrão (ou do patrão do vizinho) após a destruição do computador central. Há pessoas que, pura e simplesmente, nunca compreenderão os avanços da ciência...

Não se deve confundir choque tecnológico com choque fiscal. O choque fiscal também é muito simples de fazer:

Entre pela Repartição de Finanças do seu concelho de residência adentro. Poderá fazê-lo com a mesma convicção com que o Jorge Costa ceifa as pernas dos adversários, mas tal poderá revelar-se algo difícil. (Para treino, poderá tentar entrar na Base da Nato de Oeiras munido apenas de uma fisga e de uma tanga sensual...)

Em alternativa, poderá fazê-lo de forma mais sub-reptícia.

  1. Procure um pretexto. Entregar a declaração do I Erre Esse serve perfeitamente.
  2. Diga ao funcionário, da forma mais escandalosa possível, ignorando a eventual simpatia com que ele o atenda: "Querias o IRS, não querias? Então toma!"
  3. Faça uma placagem (e aí sim, pode utilizar as tácticas do Jorge Costa) ao funcionário.
  4. Não se preocupe com as ameaças do funcionário. Pura e simplesmente, há pessoas que, como já se disse, nunca compreenderão os avanços da ciência.

Há uma variante de conciliação destes dois tipos de choques: o choque tecnologico-fiscal. Consiste apenas em dar com o seu computador portátil na cabeça do tal funcionário das finanças.

Há, no entanto, que fazer uma advertência: qualquer um dos choques acima referidos pode ter consequências - uma delas é o choque policial, que implica que vários agentes da autoridade o façam participar num bailado muito interessante, que mete bastões e algemas.

Em consequência desse bailado, pode cair e magoar-se, inadvertidamente, sem que ninguém lhe tenha tocado, como acontece a muito boa gente que dele faz parte.

Nesse caso, terá o chamado choque da saúde, em que aguardará pacientemente numa qualquer urgência hospitalar perto de si (onde visitará a exposição permanente das mais variadas espécies de virus e bactérias, algumas destas últimas multi-resistentes), até que alguém o pique, o espicace e o torne a espicaçar, a seu bel-prazer, com um fio tipo atacador de sapato, com uma agulha de tricot na ponta.

E o seu dia, sem dúvida, não será melhor...

Mais informo que, em relação às companhias de seguros, têm obrigação de cobrir. Se eles começarem com falinhas mansas e aflorarem sequer a hipótese de não cobrirem, utilize uma variante dos choques supra-citados como argumentação para que as mesmas o cubram.

O signatário do berlogue adverte que a prática de qualquer das condutas acima discriminadas poderá ter graves consequências, quer para o seu estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade ou doença, quer para a sua própria saúde mesmo...

Mais adverte que a prática destes actos poderá causar impotência, filhos tricéfalos (ou parecidos com o carteiro) e súbita atracção por homens (ou mulheres) de bigode.

Não recomenda, nem fomenta, o uso de quaisquer acções de protesto nem de violência contra funcionários seja de que serviço forem.

Resumindo e concluindo: Não faça isto, nem em casa, nem em sítio nenhum.

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