2005/03/13

Dores de crescimento


Hoje tive uma enorme neura. Apeteceu-me fugir de tudo e de todos, inclusivé de mim próprio.
Não era bom, se pudessemos tirar umas férias de nós próprios de vez em quando? Das preocupações, das responsabilidades, do chefe que não pára de chatear, da porcaria do exame para o qual eu não estou minimamente preparado, e estou a anos luz dos colegas no estudo... (sobretudo isto, que me está a pôr pelos cabelos - o medo paralisa-me!)

Sim, hoje apeteceu-me fugir...
E o facto é que fugi.

Peguei nas pernas, e aproveitei o facto de, como já vem sendo hábito desde há uns vinte e cinco anos a esta parte, falhar a meia maratona de Lisboa, por mais um mero acaso do destino... e fui passear o Sam, que é como quem diz, passear a neura, até à zona anteriormente conhecida como Expo'98.
(Não lhe vou chamar Parque das Nações porque estar a dizer o nome todo é muito complicado, e referir-me apenas a "Parque" poderia trazer certas e determinadas associações à minha pessoa...)

Para alguns, a Expo é a zona mais "bimba" de Lisboa, comparável ao Marco Paulo, esse gigante da música erudita portuguesa, logo a seguir ao Tony Carreira.

A Expo ao Domingo tem as suas características. Algumas são boas, outras são más.

  • É frequentada pela malta mais "finesse", a melhor elite da Zona J, Vale de Chelas e arredores. Mas isso também podemos nós ver por muitos outros sítios de Lisboa. Felizmente para nós, os comuns mortais, que isso acontece, porque senão pudéssemos ir à Expo teríamos de comprar a "Caras" todas as semanas...
  • É passeio público de muitos seres humanos, no seu mais distinto traje domingueiro, ou seja, o fato de treino da loja dos trezentos, que parece adidas, mas não é adidas... (Mas para se quisermos ver muitos trajes domingueiros desses, basta ir a um centro comercial ao Domingo...)
  • É frequentada por inúmeros pares de namorados, que utilizam a Expo para procriar...
(Ohhh meus amigozzzz, procriar?!
Isto deve ser pelo facto de o Sam, o meu lado estupidamente romântico (ou romanticamente estúpido), se ter tornado, durante o dia de hoje, estupidamente neurótico (ou neuroticamente estúpido), e me ter feito a cabeça em água destilada...
Continuemos, mas com juizinho, porque hoje é dia do Senhor... :P)

A Expo é, ainda, frequentada por várias sub-espécies da espécie Homo Sapiens, ou não fosse a Expo conhecida por ser a zona mais poliglota de Lisboa.

Vi, por exemplo:
  • Vários grupos de espanhóis, a sub-espécie que está a invadir este país à beira mar plantado, com o seu característico linguajar a trezentos à hora, como se fossem apanhar o comboio, que por acaso até é perto...
  • Inúmeros portugueses e portuguesas a fingirem passear os filhos
  • Inúmeros portuguesinhos e portuguesinhas, em skates, em bicicletas, em patins, em carros movidos a bateria, em carros de bebé simples ou duplos, a passear os pais.
  • Dois chineses e uma chinesa, que, pela maneira como estavam vestidos, me puseram a adivinhar onde é que estaria o resto dos Turbo Rangers
  • Dois brasileiros, que apontado para um sítio qualquer, para o rio, diziam, com sotaque nordestino: "Pô, a gentxi até podji ver o peixi!"
  • Inúmeros pescadores, uma sub-espécie cada vez mais rara em Lisboa. Não sei que género de peixe é que eles pescam, mas não deve ter menos de três cabeças...
O que é certo é que hoje, na Expo, constatei que cresci: consegui passar pelo sítio onde eu e a pessoa a quem o post sobre o Closer é dedicado demos o nosso primeiro beijo. Estava, como nessa altura, a dar música latino-americana, tocada talvez pela mesma banda. Como por essa altura já tinha conseguido atirar o Sam ao rio, porque ele já me estava a infernizar a paciência, consegui não ficar em estado catatónico, não chorar que nem um coro de Madalenas abandonadas("porque um homem também chora, porque assim tem de ser"...) , e nem sequer ficar triste.
Sorri e continuei o meu caminho, cabelos ao vento, revivendo o teenager "inconciente" que há dentro de nós...
O que é certo é que hoje, na Expo, do rio, consegui ver um pôr do sol magnífico sobre a cidade de Lisboa.
O que é certo é que hoje, na Expo, a neura passou. Talvez não passe de mais um episódio dor de crescimento...
Não estudei nada (Habitantes do Pulo do Lobo, preparem-se, aqui vou eu!) mas a fuga, ao menos uma vez, valeu a pena.

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