2005/09/02

Desabafo

Hoje, vou escrever um post mais ou menos sério.
Tenho andado numa pilha de nervos.

Como sabem, fiz o tal exame que ordena os candidatos à especialidade. Acontece que as escolhas vão ser na próxima semana, sendo a minha na terça feira à tarde.
E acontece também que uma mente brilhante no Ministério da Saúde teve um gesto que fez lembrar qualquer director da CIA mais avisado: como os candidatos estavam à espera das vagas publicadas no aviso de abertura,lembrou-se, a quatro dias da referida escolha, de mudar radicalmente as vagas todas, reduzindo globalmente as vagas, muito à custa das vagas de especialidades...

Sinceramente não sei o motivo de tal decisão. Há más línguas que aventam a teoria de que a mesma se deu, talvez, com o intuito de preservar algumas monarquias nalguns serviços que, por risco de não haver sucessão dinástica pelo simples facto de o príncipe herdeiro não ter tirado a nota desejada no exame, se viriam à beira da extinção, ou, quem sabe, de uma revolução...
Há ainda quem, após uma apurada anamnese, ouse diagnosticar no legislador uma doença bipolar, com contornos graves, ou, pelo menos, uma personalidade "borderline"...

No entanto, o que é certo é que há quem fale em impugnar o concurso todo. Aí, se não for possível fazê-lo de forma parcial, poderia ser necessário repetir o maldito exame dos calhamaços, com ou sem Orgasmotron... O que não é possível é chegar a pleno tribunal e dizer "eu tenho uns comprimidos que até resolveriam os problemas ao legislador"...

Com ou sem impugnação, as escolhas estão aí.O que é facto é que ao longo do tempo nunca soube nem sei muito bem o que escolher. Primeiro era porque não queria ter expectativas antes de saber a nota do exame, e depois é porque com a nota do exame que tenho não quero criar expectativas que me venham a sair goradas.

Para desilusão de alguns dos meus amigos, na sua versão feminina, uma hipótese está posta de parte: a nota que obtive não me permitirá, decerto, ir para a especialidade de dermatologia - não é desta que têm cremes à pala do "je" - porque um qualquer colega com melhor nota não se importará de, no futuro, levar uma vida mais descansada e melhor remunerada...

Para descontento de outros, também não poderei ir, decerto, para cardiologia, e, por essa via, já não posso passar os dias a fazer reanimações e a brincar ao "ER"...
Até que poderia brincar ao "ER" em medicina interna - estou a ter uma boa experiência agora, longe da médica do outro post, carinhosamente referenciada para a posteridade como "A megera" - mas tratar de doentes típicos de medicina interna, com multiplas patologias, não comunicativos, imóveis, cheios de escaras, muitas vezes internados porque a família os abandona, não é coisa que me seduza muito, porque eu gosto de comunicar com as pessoas...

A outros amigos, especialmente os casados e/ou com instintos procriativos, poderei vir a dar a hipótese de me telefonarem às três da manhã, se for para Pediatria. Pediatria é uma área que eu pura e simplesmente adoro, sobretudo em consultório e em enfermaria. Urgências, nem tanto... Mas convenhamos que qualquer Cristo que descesse à Terra como interno desta especialidade, também ficaria com os cabelos em pé em segundos, se entrasse, durante o Inverno, na urgência de um hospital pediátrico. Ele é os berros das crianças, ele é o stress, os berros, as agressões dos pais, ele é a indignação pelos colegas mais velhos que vêem, eles próprios, os casos "da treta" e delegam gentilmente os que exigem maior capacidade em internos de primeiro ano... Enfim...
Apesar disso, se tivesse hipótese era mesmo pediatria que escolhia!

Quanto à psiquiatria, seria outra especialidade a considerar. Como "de médico e de louco, todos temos um pouco", é sempre divertidissimo fazer diagnósticos de personalidades ou perturbações da personalidade naqueles que nos rodeiam... Poderia citar uns quantos casos...
Naaahhh...

Outra ainda era a Saúde Mental infantil, ou Pedopsiquiatria. É uma especialidade "pesada". Muitas situações sociais graves, que nos sentimos impotentes para resolver, alguns "chefes" que se esqueceram que são médicos, e que passam o tempo a "mandar bitaites" sobre as crianças, tal como o prof. Marcelo faz na televisão em relação à política... mas nada, nada mesmo, substitui o acto de, por exemplo, se estabelecer comunicação com uma criança autista, através de cócegas... E isso paga muita coisa...

(Claro que em reuniões de família, quando dissermos a especialidade, a próxima resposta que se ouve é "Pedo quÊ?" Mas pronto...)

Por falar em família, outra especialidade seria a Medicina Geral e Familiar. Não é que o facto de se ser médico de família dê automaticamente direito a fazer séries na televisão, nem a ter enfermeiras como aquela enfermeira do "cabelo vermelho" no centro de saúde... mas tem duas coisas que eu gosto muito: a visão global do doente, e o facto de se lidar com pessoas saudáveis, numa actuação completamente proactiva... (Ui, isto parece um anúncio a iogurtes que reduzem o colesterol...)

Com isto tudo, apetece-me mesmo dizer:

"PORQUE RAIO É QUE EU NÃO SEGUI ENGENHARIA DE INFORMÁTICA?!"

(eu que até tenho um certo jeito para computadores, e que às vezes me sinto melhor compreendido por eles do que por certas mentes dirigentes do nosso País... assim poderia fugir a ter de fazer este concurso!!!)

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